23 de junho de 2013

Vontades


Às vezes, eu tenho vontade de correr à noite, debaixo de chuva, por uma rua vazia de paralelepípedos gastos. Às vezes, me pego pesquisando sobre os países menos conhecidos, menos falados, sabe aqueles destinos menos clichês? Eles são os mais desafiadores, guardiões das maiores aventuras e mistérios. Em outras tardes, penso que eu poderia passar minha vida inteira divagando entre poesias, com os dedos repousando no teclado, prontos para agir no mínimo sinal de criatividade.

O problema é que, na maioria das vezes, o que realmente me falta é inspiração. Saber exatamente as palavras certas para colocar meus sentimentos num texto de poucas palavras. Ou até de muitas, para apenas os corajosos descobrirem. Sou alguém de momento e nem sempre meus momentos conseguem sair pelos dedos. Seria melhor se fosse mais fácil.

Quando me encontro inspirada ou quando a imagem no espelho sorri de volta, as palavras vêm e transbordam. Com elas, todas as minhas vontades e sonhos também. De repente, voar não parece mais tão impossível ou talvez ter superpoderes, escalar montanhas, saltar de um avião. Tudo parece simples quando estou imaginando.

Verdade que tive minhas desilusões e, nessas vezes, nada além de lágrimas escorrem dos meus dedos e ameaçam pifar o computador ou rasgar o papel com qualquer palavra que eu tente expressar. São os momentos duros da alma, aqueles em que apenas o canto escuro do quarto é suficientemente confortável para seus olhos sensíveis e cansados.

Mas quando a primavera sutilmente desabrocha as flores, a essência que estava guardada em mim floresce por entre os espinhos e me lembro dos sonhos que cultivei naquela terra outrora fértil. Nada do que uma ajudinha do tempo para fazê-la relembrar seus dias de calor. Então olho o mundo lá fora e as vontades voltam.

Vontade de aprender a cantar. Vontade de flutuar ao som de uma boa música. Comer uma ótima comida. Sair com uma câmera no pescoço e uma mochila nas costas. Aprender novas línguas. Conhecer novas pessoas, novos lugares. Vontade de viver. Vontade de ser feliz.

Não há nada melhor do que acordar numa manhã fria e chuvosa e, enrolada nos lençóis, pensar em tudo que ainda pode realizar. São nesses momentos que a poesia, como uma borboleta, suavemente pousa no meu travesseiro e brinca com meus cabelos. Me fazendo saber que ela nunca me deixou, nunca deixará, enquanto eu ainda tiver vontade.

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