22 de março de 2014

Uma prosa sobre confiança


Ontem me vi discutindo um assunto delicado: o quanto confiamos uns nos outros? Não quantificando a confiança que temos em nossa família, amigos ou colegas de turma/trabalho, mas o quanto confiamos uns nos outros como pessoas.

Aquele cara atrás de você na fila do supermercado, você confia nele? E o motorista do ônibus que está te levando até o seu destino? E quanto a pessoa que está sentada ao seu lado? Sabe aquele conselho que te dão para não confiar em estranhos?

Me peguei pensando sobre o que as pessoas definem como “estranho”. Aquele pai de família que sai para trabalhar as sete horas da manhã e puxa conversa com você na hora do almoço no restaurante porque gosta de conversar é um “estranho”? Um homem que vê uma mulher – ou vice-versa – em uma praça, se interessa e resolve pedir o telefone, é um “estranho”? Você é um "estranho"? Quer dizer, nós temos que parar de interagir uns com os outros, criar uma armadura para nos proteger de qualquer pessoa só porque temos um pré-conceito de que ela irá nos fazer algum mal?

Pense bem, todo mundo é estranho para todo mundo até o momento em que você decide fazer a pessoa deixar de ser.

Há os limites do bom senso, é claro, eu sei disso, mas essa predisposição que todos têm de esperar o mal no próximo é algo que me incomoda bastante. Conversei com minha amiga Raíssa sobre isso.

- Não consigo me ver tão melhor do que as outras pessoas a ponto de ter de ser privada delas, por elas serem “perigosas em potencial”. – ela me disse.

- É triste você só imaginar outra pessoa como a pior possibilidade humana, não é? Um assassino. Um estuprador. Um ladrão. – respondi.

Nós sempre temos ótimas conversas e eu gosto da maneira como Raíssa vê as coisas. Percebemos que esse assunto daria uma conversa interessante.

- Sobre isso, eu só poderia dizer uma coisa: nunca perdi nada (ruim) por confiar nas pessoas. Mas já vi muita gente perder por não confiar. – ela continuou.

- Tá vendo só? Se eu confiei em alguém e fui magoada, o erro foi da outra pessoa em não ter caráter e não meu por ter acreditado no lado bom dela, sabe?

- Exatamente. A famosa mania de sempre culpar a vítima. Como se o fato de confiar fosse a coisa errada. Fatalidades acontecem. As pessoas acham que o erro está em confiar quando o erro está em quebrar a confiança de alguém.

- Isso mesmo!

Concordamos no mesmo ponto de vista: o mais sábio não é nos fechar diante dos outros pelo simples fato de que são “estranhos”. Ninguém nasce conhecendo todos a sua volta e ninguém morre conhecendo todos completamente. O ser humano, por si só, é uma criatura complexa e capaz de muitas coisas.

Ironicamente, esperar essa mesma capacidade do outro não é uma delas.

4 comentários:

  1. Não posso deixar de dizer que nossa conexão tá me surpreendendo demais. Obrigada por cada conversa dessa que temos, são muito enriquecedoras pra mim e inspiradoras pra mim. <3

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