24 de novembro de 2013

O Segredo dos Pássaros (Parte I)


Era uma vez uma menina que tinha asas. Sua maior alegria era acordar em uma manhã de sol e sair voando por aí, suas asas brancas brincando de esconde-esconde com as nuvens. Seus olhos eram amarelos e seus cabelos, quando balançados pelo vento, tinham a cor do fim de tarde, aquela hora em que o sol decide iluminar outras asas e a lua corre em auxílio daqueles que temem a escuridão.

Ninguém entendia como poderia existir menina tão singular. Dizia-se, pelas esquinas onde as paredes eram conhecedoras de todos os fatos, que tal menina só poderia ter nascido de um casulo de borboleta. Pouco era especulado sobre onde seria sua casa, mas muitos juravam tê-la visto saindo de uma flor, batendo as asas até alcançar o céu.

As pessoas não ousavam tocá-la, muito menos falar com ela. Algo tão diferente e bonito, na mente de todos, não poderia ser bom. A menina, entretanto, não os temia e gostava de observa-los, pousada no topo das casas ou edifícios. Achava-os belos, curiosos. De vez em quando até os achava parecidos com ela, mas não tinham asas. Isso, de fato, era preocupante. Todas as crianças que ela um dia conhecera tinham asas, então porque tinham sumido? Onde estavam as outras crianças?

Ela tinha vindo de longe, quando os pássaros decidiam que era a hora da viagem. No meio do caminho, ela quis olhar para o mundo que nunca tinha visto antes, mas por causa dos balanços, escorregou. Ela poderia ter morrido, mas existem os pássaros que tudo observam e eles a salvaram. Tinham olhos grandes e bicos pequenos, então não poderiam carrega-la por muito tempo. Ela morou com eles e exercitou suas asas até aprender a voar, então decidiu procurar sua casa, o lugar que nascera.

No caminho, encontrou os humanos. Eram estranhos, grandes, de olhos escuros e semblantes sérios, porém todos moldados a mesma imagem que a dela. Até os menores eram parecidos com ela, então a menina voou para pedir ajuda. Não sabia falar a língua deles e não entendeu seus gestos ameaçadores. Alguns empunhavam armas contra ela, outros fugiam de sua presença. A menina tentava mostra-los que era como qualquer outra criança e que não queria fazer mal a ninguém, mas seus esforços eram inúteis. Uma menina com asas não era admitida entre eles. Não era possível e também não era bom.

Ela se escondeu deles, teve medo. Olhou para os céus e, pela primeira vez, não quis voar. Se todos não gostavam delas, ter asas deveria ser errado. Começou a encolhê-las e elas atrofiavam a cada dia sem uso. Seus olhos escureciam e seu cabelo caía, dando lugar a fios de cores mais escuras. Vivia sozinha e afastada, comia os restos das frutas que sobravam do mercado, até ser adotada pela única humana capaz de amar.

(continua...)

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