30 de novembro de 2013

O Segredo dos Pássaros (Final)

Se você ainda não viu as duas primeiras partes, clica nesses links antes de continuar: Parte I e Parte II. :)


Não poderia ser verdade, a menina repetia em sua cabeça a cada palavra que o pássaro falava. Ela tinha conhecido uma humana que possuía um coração aquecido pelo sol e que batia tão forte e descompassado como se suas asas tivessem nascido em seu peito para compensar a perda das que outrora ficavam em suas costas. Decidiu mostra-la ao pássaro, para que ele pudesse também acreditar.

- Oh, mas que magnífico! – ele exclamou. – Os outros nunca acreditariam se eu contasse! Mas se apresse e volte comigo, vamos levar as boas novas. Levarei este bebê de volta, assim como sua humana. Quanto aos outros humanos, temo que seja tarde. Mas agora temos esperanças de recomeçar!

A menina deu um passo para trás. Não parecia justo. Os humanos precisavam de uma chance. Todos apenas foram acreditando no que foram treinados a acreditar, com décadas e décadas de mentiras se tornando tão grandes que já eram capazes de embaçar seus próprios olhos cansados de crer no inexplicável quando o inexplicável tinha parado de crer neles.

Ela os tinha visto de perto. Sentiu medo e quase se tornou igual a eles, mas em meio a tanto joio, um pequeno ramo de trigo lutava pela sua parte ao sol. A menina tinha tomado sua decisão: ficaria na terra e andaria entre eles. Mostraria suas asas e os ensinaria que também podiam voar. Falaria sobre a moradia que os esperavam nas nuvens assim que eles aprendessem. Aprenderia a língua deles, apenas para conta-los histórias impossíveis. Faria com que acreditassem.

O pássaro não via como isso poderia ser possível, mas a menina estava obstinada. Então ela voltou para a cidade, os pés descalços na areia fina. Todos ficaram em silêncio quando a viram chegar. Em meio a todos, a menina arqueou as asas, a luz do sol iluminando suas penas, e esticou os braços o máximo que conseguiu. Ficou ali parada, esperando que eles fossem até ela, que a tocassem, que a sentissem.

Aos poucos, eles se lembraram. Alguns rapidamente, outros depois de dias, mas eles se lembraram. Podiam entender os pássaros e conversar com as plantas. Conseguiam flutuar e até ficar embaixo d’água por horas a fio. Desafiavam corridas até as nuvens, mas nunca chegavam até lá, pois ainda não era a hora. A menina, de repente mulher, andava entre eles.

Agora, não eram mais crianças perdidas a procura de suas asas roubadas. Tinham reencontrado seu objetivo de vida e estavam ansiosos por aprender. Ao longo do rio formado pelas lágrimas de tantos, esperaram pelo seu retorno. E um a um, todos foram chamados. Até que todos eles subiram. Tiveram suas asas de volta, mas não achavam a mulher de asas que os tinha salvado, ela não tinha subido junto com eles.

Os pássaros, entretanto, já sabiam que esse seria o destino que ela escolheria para si mesma. Enquanto existisse humanos sem asas, a menina nunca descansaria. Esse tinha sido seu primeiro desejo e seria seu último até o fim dos dias. Ela andaria entre os humanos, mostrando suas asas e deixando que eles escolhessem se queriam vê-las. Ela os ensinaria a voar de novo e quando seus corações estivessem aquecidos o suficiente, ela os levaria de volta para casa.

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