25 de novembro de 2013

O Segredo dos Pássaros (Parte II)

Se você ainda não viu a primeira parte da história, clica nesse link antes de continuar. ;)


A humana encorajou a menina a continuar a voar, ajudando-a a exercitar suas asas duras. Aos poucos, ela estava voltando ao que era antes, graças ao coração puro da humana que a acolheu. O resto dos dias, ela passou procurando pelos pássaros que viajavam, na esperança de ser levada embora daquele mundo.

Aprendeu a espiar a vida dos humanos escondida em cima das construções. Conseguiu voar sem ser notada e passou a vê-los com outros olhos. Não tinha mais medo, mas sabia o limite que os distanciava. A menina via bondade neles, encrustada na essência de suas almas cansadas e encoberta com uma mancha escura. Algo tinha acontecido com eles, algo de tão ruim que tinha envolvido seus corações e impedido o sol de entrar em seus peitos agora tão frios quanto o pior dos invernos.

Em uma dessas viagens, a menina viu de longe um de seus pássaros. Tão alegre, ela não se importou em ser notada e mergulhou no ar para encontra-lo. O pássaro estava parado, como quem não acreditava que aquela humana pudesse voar até ele. Atônito, ele a observou enquanto ela pousava ao seu lado, gritando em sua própria língua, implorando para voltar para casa.

- Mas... Como pode ser? – ele indagou, falando consigo mesmo. – Nenhuma remessa nunca foi extraviada. Os humanos nunca a deixariam sobreviver!

O pássaro estava agora andando de um lado para o outro, balançando uma pequena cestinha branca que trazia no bico enquanto se movia. Murmurava consigo mesmo e balançava a cabeça: “Não pode ser possível”, ele repetia.

A menina estava ansiosa, um pouco confusa também. Ela decidiu interrompe-lo mais uma vez. Queria ir para casa, não pertencia àquele lugar, os humanos eram criaturas loucas e perdidas. Não tinham mais suas asas e seus corações estavam congelados.

- Claro que eles não têm mais as asas! Nós mesmos as cortamos, sua tola! Você viu como eles reagiram a você? Eles não acham que isso pode ser possível e quanto mais mostramos, menos acreditam. Você tem sorte. Você tem sorte.

A menina não entendia. Por que cortariam suas asas? Eram eles tão insensíveis quanto os próprios humanos?

- Não era para ser assim, mas... o que posso fazer? Esse é o meu trabalho! Vocês deveriam crescer com suas asas, eu também concordo. Nas nuvens, nenhum ser é privado de asas! Mas aqui na terra, tudo mudou. Vocês não são mais capazes de aceitar desde que começaram a buscar uma explicação para tudo. – o pássaro falava mais alto, em plena indignação. – Trazemos nossos próprios bebês, como um presente ou uma última tentativa de ajuda, mas é inútil. Sempre será. Eles não merecem que as nuvens percam bens tão valiosos apenas para os estragarem todos! Olhe para eles, querida. – o pássaro fez outra pausa. – Tão limitados ao seu próprio nariz. Incapazes de verdadeiramente amar uns aos outros.


(O final vem em breve, na Parte III! Não esqueçam de entrar para conferir.)

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